O que fazer com as FORMIGAS CORTADEIRAS?
As formigas cortadeiras são apontadas como as principais pragas de ecossistemas agrícolas e florestais. Elas atacam as plantas em qualquer fase de desenvolvimento e são de difícil controle.
O produtor rural tem constante preocupação com as formigas cortadeiras em suas lavouras, sejam culturas anuais, pomares de citros, cana-de-açúcar ou florestas plantadas, como também plantas ornamentais, jardins e pastagens. Elas são popularmente conhecidas como saúvas e quenquéns (gêneros Atta e Acromyrmex), e ocorrem exclusivamente no continente americano. O corte de folhas, flores e ramos tenros das plantas para o cultivo do fungo simbionte, sua verdadeira fonte de alimento, exige grande quantidade de material vegetal.
Por esse motivo, são apontadas como as principais pragas de ecossistemas agrícolas e florestais, causando prejuízos consideráveis ao atacar as plantas em qualquer fase de desenvolvimento e sob vasta ocorrência. Em plantios de eucalipto, por exemplo, a preocupação com mudas, brotações iniciais e plantas adultas é constante, pois os prejuízos causados pela atividade da saúva-limão (Atta sexdens rubropilosa) foram calculados em torno de 14% numa densidade de 4 colônias/hectare.
Tendo em vista seu comportamento social, as formigas representam grande dificuldade no estabelecimento de métodos alternativos de controle. Isso pode ser explicado devido à evolução entre formigas, fungos e o substrato vegetal, tornando-se um inseto com grande capacidade na escolha de plantas e no cultivo do fungo simbionte. Tal seletividade sobre os vegetais dificulta o planejamento de programas de melhoramento de plantas visando à resistência e, por cultivarem fungo, dificultam o estabelecimento de programas de controle biológico, principalmente com o uso de fungos entomopatogênicos. Trabalhos com formigas cortadeiras em laboratório utilizando os fungos Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana têm apresentado bons resultados. No entanto, em condições de campo, estes não têm sido considerados satisfatórios.
O uso de inseticidas fitobotânicos tem instigado a atenção de alguns grupos de pesquisa no Brasil. Contudo, encontrar um composto químico cujas características sejam ideais para vencer as barreiras do comportamento das formigas tem sido uma grande dificuldade. Além disso, a extração de compostos em larga escala e com alto grau de pureza, interferindo na viabilidade econômica, e a rápida degradação em condições de campo, exigindo tecnologia adequada na sua formulação, são outros problemas a serem considerados.
Controle químico — Sendo assim, o método mais eficaz disponível no mercado continua sendo o químico, tanto na forma de isca granulada (sulfluramida e fipronil), quanto nas formulações de pó seco (deltrametrina) e líquido termonebulizável (clorpirifós).
Os formicidas em pó agem por contato, eliminando as formigas, mas é praticamente
impossível o produto atingir todas as câmaras de ninhos em razão da sua complexidade estrutural.
O uso e o tipo de formulação do formicida são dependentes da densidade de colônias presentes na área que se deseja controlar. Por isso, o monitoramento frequente das áreas é muito importante, pois não se sabe ao certo em qual momento as formigas decidem forragear as plantas. Sabe-se apenas que é uma atividade possivelmente regulada pelas condições climáticas e pela qualidade da vegetação disponível. Também se pode fazer o controle baseado na previsão de corte de plantas, como vem sendo realizado em renovação de áreas de eucalipto. Para isto, antes do preparo das áreas para plantio, recomenda-se que se faça um controle prévio, pois sua mecanização pode desestruturar os ninhos que, em pouco tempo, são retomados, dificultando a localização exata para um controle eficiente.
Os formicidas em pó agem por contato, eliminando as formigas de forma mais rápida. No entanto, considera-se praticamente impossível o produto atingir todas as câmaras de ninhos adultos, devido à sua complexidade estrutural. Ainda apresenta problemas com a umidade do solo, permitindo assim que o ninho se recupere. A termonebulização tem sido utilizada somente em grandes áreas. Contudo, o método apresenta desvantagens operacionais e econômicas, pois o equipamento é de alto custo para o pequeno produtor rural e sua manutenção demanda gastos, além do elevado risco de intoxicação do operador.
Iscas — As iscas tóxicas são menos poluentes que outros produtos químicos; oferecem maior segurança ao aplicador; a concentração do inseticida é muito baixa; é um método prático, com menor custo, e é uma maneira inteligente de matar as formigas, pois elas carregam as iscas para seus ninhos sem detectar o inseticida.
Visto o comportamento social, as formigas representam na agricultura grande dificuldade
no estabelecimento de métodos alternativos de controle.
No Brasil, até 1993, o controle químico com iscas formicidas era realizado com o uso de organoclorados, especialmente o dodecacloro. Nesse mesmo ano, sua comercialização foi proibida, em função do descobrimento de uma nova molécula, a sulfluramida. Esta, pertencente ao grupo das sulfonas fluoralifáticas, age por ingestão.
Possui todas as características de um bom formicida (age por ingestão, é inodoro, não repelente, tem baixa degradação no ambiente, é letal em baixas concentrações e apresenta ação tóxica retardada), permitindo que a isca exceda as barreiras de defesa das formigas contra materiais estranhos, contaminando praticamente toda a colônia e, assim, matando-a.
Outro inseticida registrado no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), na formulação isca granulada é o fipronil (fenil-pirazol), que se apresenta ativo também por ingestão. Não recomendamos o uso do fipronil em outras formulações por razões técnicas, como, por exemplo, sua alta toxicidade.
As iscas granuladas compreendem um substrato atrativo (polpa cítrica desidratada) em mistura com um princípio ativo tóxico, em pellets. O inseticida é dissolvido em óleo de soja refinado e incorporado ao substrato. Ao aplicar as iscas, essas devem ser colocadas ao lado das trilhas de um lado só, mais ou menos há um palmo de distância do olheiro, evitando interromper a passagem das formigas na trilha. As iscas têm demonstrado excelentes resultados no controle de formigas cortadeiras, com eficiência entre 90% a 100%. No caso das saúvas, a dosagem recomendada é de 8 gramas por metro quadrado de terra solta e para quenquéns, 8 a 10 gramas de produto por formigueiro.
A sulfluramida age por ingestão, é inodora, não repelente, tem baixa degradação no ambiente, é letal em baixas concentrações, apresenta ação tóxica retardada e contamina praticamente toda a colônia e, assim, matando-a.
A sulfluramida age por ingestão, é inodora, não repelente, tem baixa degradação no ambiente, é letal em baixas concentrações, apresenta ação tóxica retardada e contamina praticamente toda a colônia e, assim, matando-a.
MIPIS — O uso de MIPIS (micro porta iscas, saches de papel impermeável contendo normalmente 10 gramas de iscas) vem ganhando espaço em plantios comerciais de espécies florestais devido à facilidade de aplicação e de proteção da isca contra umidade, permitindo maior tempo de duração da mesma em condições de campo e reduzindo problemas de contaminação de outros animais e do ambiente. Mas devemos lembrar que os MIPIS são recomendados somente para colônias novas e em baixa densidade. Deve-se tomar cuidado também para não aplicar os MIPIS em locais onde outros animais possam ingeri-los, por exemplo, em pastagens.
Na hora de comprar as iscas formicidas, deve-se tomar alguns cuidados, como, por exemplo, verificar se são produtos registrados no Mapa, devidamente fiscalizados e com indicação de uso específico para formigas cortadeiras. Todo formicida para agricultura precisa respeitar a Lei dos Agrotóxicos, em todas as suas normas e exigências de fiscalização. Mas existem vários formicidas fora da lei no mercado, com irregularidades de registro, embalagem, formulação ou indicação de uso. Formicidas clandestinos que, às vezes, têm registro na embalagem, mas esse registro é falso. E os formicidas falsificados, que usam um princípio ativo diferente daquele declarado na embalagem, e que enganam o comerciante e o produtor rural. Para não correr o risco de comprar formicidas com essas irregularidades, deve-se optar sempre por marcas que tenham tradição no mercado.
Apesar do sucesso como formicida, o controle químico vem passando por um período de intensa reavaliação. A sulfluramida tem sido questionada por órgãos internacionais, especialmente os de certificação florestal, que em 2009 a incluíram na lista de produtos com restrição de uso. Contudo, a utilização da sulfluramida foi liberada e tem permissão para ser comercializada. Outros ingredientes ativos de grande importância no controle químico de formigas também estão na lista de produtos com restrição de uso, como a deltrametrina (pó seco), o fipronil (isca granulada) e o clorpirifós (líquido termonebulizável), entre outros. No entanto, a busca por novos ingredientes ativos é intensa, mobilizando setores da indústria. Até o momento, porém, nenhum produto, seja ele biológico ou de origem botânica, sintético ou natural, apresentou resultados satisfatórios ao ponto de usá-los em condições de campo, apesar do esforço mútuo de todos os agentes envolvidos para que isto ocorra o mais breve possível.
MAIS DE 18 MIL ESPÉCIES – 2 MIL SÓ NO BRASIL
Estima-se que exista no mundo cerca de 18 mil espécies de formigas, mas aproximadamente 10 mil são conhecidas e catalogadas. No Brasil são 2 mil espécies, sendo 10 espécies denominadas saúvas do gênero Atta e 20 espécies do gênero Acromyrmex. No Mato Grosso do Sul, existem cinco espécies mais importantes economicamente: saúva cabeça de vidro (Atta laevigata), saúva mata pasto (Atta bisphaerica), saúva parda (Atta capiguara), saúva limão (Atta sexdens) e saúva da mata (Atta cephalotes).
Além das saúvas do gênero Atta, há também algumas espécies de quenquéns que causam prejuízo para a agricultura: quenquém de cisco (Acromyrmex crassispinus), quenquém de monte vermelha (Acromyrmex heyn), mineira preta (Acromyrmex lundi) e quenquém de monte preta (Acromyrmex lobicornis). Essas espécies não causam tantos danos, pois seus formigueiros são de poucas panelas e não ultrapassam dois metros de profundidade. É meia dúzia de panelas e 175 mil formigas. Mas quando a infestação for grande, deve-se ter atenção.
As saúvas podem ocasionar grandes perdas, já que um formigueiro grande podem ter de 7 a 10 milhões de formigas em média, numa profundidade de até oito metros e ter até 8 mil panelas ou câmaras. Necessitam de uma tonelada de folhas equivalente a 86 árvores adultas ou 161 árvores de pinus. Uma rainha saúva vive em média 12 a 15 anos e um bitu (macho) apenas 12 horas. Um formigueiro se torna adulto aos dois anos de idade. A revoada para formação de novos formigueiros acontece de setembro a dezembro, com seu pique nas primeiras chuvas, começando por volta de nove horas da manhã.
No Mato Grosso do Sul, com o incentivo do plantio de espécies de eucalipto e pinus, na década de 80, e com a falta do conhecimento mais profundo sobre o combate das formigas cortadeiras e os danos causados por elas, houve um aumento significativo dessa praga, pois se encontravam num ambiente favorável para seu desenvolvimento e proliferação. Nessas plantações, ocorrem com maior frequência as saúvas limão (Atta sexdens), que encontram nesses locais um clima favorável para seu desenvolvimento, já que seu habitat preferido é a sombra. Além da saúva limão, há também a parda e a cabeça de vidro, que são encontradas em qualquer ambiente.
Prejuízos — Estas pragas produzem um prejuízo de 14% na produção de madeira por hectare, e árvores desfolhadas três vezes consecutivas perdem suas forças e acabam morrendo. Nos canaviais do Mato Grosso, uma cultura de grande expansão no estado, ocorrem as saúvas mata pasto (Atta bisphaérica). É a principal praga e causa sérios danos à cana e também às pastagens, pois se desenvolve com muita facilidade no ambiente, chegando a destruir até três toneladas de cana por hectare/ano – apenas um formigueiro adulto – e reduzem a capacidade das pastagens em até 50%.
O primeiro e fundamental passo para realizar o combate dessa praga é ter o conhecimento sobre ela, seu dimensionamento, sua identificação, seus hábitos, sua biologia e alimentação assim como conhecer os melhores métodos de controle e o melhor momento de aplicação. Tudo isso para não desperdiçar os defensivos, o que gera prejuízos aos produtores. Um produtor tem o custo entre R$ 70 a R$ 90 ao ano para o combate das formigas. No Mato Grosso do Sul, há um grande aliado ao combate dessa praga: o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que disponibiliza cursos com duração de 16 horas com as orientações necessárias para realização do controle das formigas. Os cursos são realizados em parceria com os sindicatos patronais rurais, produtores e trabalhadores rurais.
Artigo retirado da Revista: A Granja - O Brasil Agrícola, Edição 751
Autores: Nádia Caldato, Marcílio Souza Silva e Ricardo Toshio Fujihara, doutorandos; Luiz Carlos Forti, professor assistente doutor, integrantes da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, Campus de Botucatu/SP